terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

No Fim da fila

No fim da fila - Márcio Barker 
(imagem tirada de Hospício Literário)
 

Ainda ontem...
No fim da fila, eu espreitava as curvas que ela fazia.... e se perdia.
Nem dava prá ver onde ia dar.
Meu Deus me perdoe, mas quantas filas ainda me esperam?
Mas valentemente que estava lá,
e de lá não sairia até chegar ao seu final.
E eu pensava se um dia as filas terminariam. Se eu, pobre mortal, me livraria delas.
Eu era o último desgraçado, naquele fim de fila. Quanto tempo até chegar ao seu final?
Resmungava, amaldiçoava aquela fila, como tantas outras que já peguei. Se pudesse, mataria com requintes de crueldade, os responsáveis por tantas filas.
E, para fugir do inferno da fila, eu sonhava.
É sim. Ia longe. Lembrava de doces beijos, de palavras carinhosas. De sorrisos ingênuos.
Lembrava também das conversas bobas, jogadas fora nas rodas de tolos amigos
Das piadas tontas, da risada fácil.
Tinha que me conter, pois rindo sozinho, a fila iria achar esquisito..
Analisava e refletia os tipos daquela fila.
Mas os olhos sempre preferiam as boas bundas, das boas da fila.
Os rostos ficavam mais coloridos, pelos meus olhos brilhantes, desassossegados, curiosos, safados.
Ria de lado, do tipo que me parecia engraçado. Rugia por dentro contra o arrogante.
E voltava a ter o coração aos saltos...graças a mais uma excelente bunda, da moça ali ao lado, aliás, muito bem feita.
E entoava em pensamento, um desordeiro rock´n roll, que embalava o meu espírito malcriado.

E hoje...
Invejo aquele que está lá...bem no fim da fila.
Trocaria de olhos fechados os privilégios de hoje, que não permitem mais que eu fique lá, a vida toda, naquela fila.
Trocaria de olhos fechados, privilégio da experiência adquiria,
pelas conversas jogadas fora, na roda tola de amigos com sonhos bobos.
Trocaria meus resmungos e dores, pela longíncua raiva de estar no fim, daquelas filas...
filas de outros tempos.
Falta pouco para ser atendido.
Foi rápido.
Mas juro que não reclamaria se demorasse como seu eu estivesse no fim da fila.
Mas como eu queria estar lá, bem no fim daquela fila!!!
É...mas não será possível voltar a estar lá.
O que salva é que ainda insisto em olhar com ótimos olhos,
as boas bundas, que abundam ao meu lado...
...e ainda entoando o velho, safado, desordeiro e bom rock´n roll...
Nem tudo está perdido, não é????