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No fim da fila - Márcio Barker
(imagem tirada de Hospício Literário)
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No
fim da fila, eu espreitava as curvas que ela fazia.... e se perdia.
Nem
dava prá ver onde ia dar.
Meu
Deus me perdoe, mas quantas filas ainda me esperam?
Mas
valentemente que estava lá,
e
de lá não sairia até chegar ao seu final.
E
eu pensava se um dia as filas terminariam. Se eu, pobre mortal, me
livraria delas.
Eu
era o último desgraçado, naquele fim de fila. Quanto tempo até
chegar ao seu final?
Resmungava,
amaldiçoava aquela fila, como tantas outras que já peguei. Se
pudesse, mataria com requintes de crueldade, os responsáveis por
tantas filas.
E,
para fugir do inferno da fila, eu sonhava.
É
sim. Ia longe. Lembrava de doces beijos, de palavras carinhosas. De
sorrisos ingênuos.
Lembrava
também das conversas bobas, jogadas fora nas rodas de tolos amigos
Das
piadas tontas, da risada fácil.
Tinha
que me conter, pois rindo sozinho, a fila iria achar esquisito..
Analisava
e refletia os tipos daquela fila.
Mas
os olhos sempre preferiam as boas bundas, das boas da fila.
Os
rostos ficavam mais coloridos, pelos meus olhos brilhantes,
desassossegados, curiosos, safados.
Ria
de lado, do tipo que me parecia engraçado. Rugia por dentro contra o
arrogante.
E
voltava a ter o coração aos saltos...graças a mais uma excelente
bunda, da moça ali ao lado, aliás, muito bem feita.
E
entoava em pensamento, um desordeiro rock´n roll, que embalava o
meu espírito malcriado.
E
hoje...
Invejo
aquele que está lá...bem no fim da fila.
Trocaria
de olhos fechados os privilégios de hoje, que não permitem mais que
eu fique lá, a vida toda, naquela fila.
Trocaria
de olhos fechados, privilégio da experiência adquiria,
pelas
conversas jogadas fora, na roda tola de amigos com sonhos bobos.
Trocaria
meus resmungos e dores, pela longíncua raiva de estar no fim,
daquelas filas...
filas
de outros tempos.
Falta
pouco para ser atendido.
Foi
rápido.
Mas
juro que não reclamaria se demorasse como seu eu estivesse no fim da
fila.
Mas
como eu queria estar lá, bem no fim daquela fila!!!
É...mas
não será possível voltar a estar lá.
O
que salva é que ainda insisto em olhar com ótimos olhos,
as
boas bundas, que abundam ao meu lado...
...e
ainda entoando o velho, safado, desordeiro e bom rock´n roll...
Nem
tudo está perdido, não é????