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Morri - Márcio Barker Imagem retirada de http://migre.me/u8mxK |
Por que o pasmo??? Todos morrem, por que eu também não posso morrer?
Bem, claro, fui direto para o céu!
Hummm...quanta pretensão, não é?
Mas fui sim!
Cheguei lá todo lampeiro, muito à vontade, e já fui entrando.
Foi aí que me chamaram:
´´Ei! Ei!, onde vamos???´´
Era um sujeito com um aspecto que nunca vi. Claro, imaginei que fosse um anjo, apesar de ter notado a falta daquela roda em cima da cabeça, e de um pelo par de asas.
´´Está falando comigo?´´ Perguntei.
Ele fez uma cara como se dissesse:
´´Não, com a sua avó!´´
Mas não chegou a dizer. Aliás, pobre vovó, já se foi há tempo!!!
Bem, daí ele me chamou para o lado dele. E foi dizendo:
´´Vamos dar uma checada no seu prontuário, não é?´´
Prontuário!!! Mas até aqui existe essas coisas??? Que coisa!!!
E ele ficou lendo o tal do meu portuário. Humm, às vezes mexia os olhos na minha direção. Vocês sabem como é isso, não é?
E foi dizendo finalmente:
´´Hummmm...mal aluno na escola, vagabundo, não fazia direito as lições, notas vermelhas. Era bom na cola. Repetiu alguns anos. Éééé...começamos bem, não? Coitado do seu pai!. Aliás, para sua informação, ele está no céu.´´
Éeééé...deveria estar mesmo, só pelo fato de ter sido meu pai.
Mas daí, me irritei, e parti para minha auto defesa:
´´Ora, vamos, tenha dó. Dê um desconto eu era criança...moleque...´´
E ele me interrompe:
´´Ah! Sim. Quanto a isso não tenho dúvidas. Moleque! Desordem, vagabundagem, pneus esvaziados por você, ovos nas cabeças de passantes, campanhias tocadas em casa dos vizinhos, e por aí vai.´´
Ahhhh! Me enfezei! E energicamente esbravejo:
´´Pois bem. Escute aqui. Não sou apenas maldade. Para provar invoco o testemunho de dois cachorros que recolhi das ruas, e adotei!!! Tá aí, ó!!!
E ele confirma:
´´ Sim, sim. Já vi. Dois vira-latas que o senhor recolheu da indigência das ruas. Sim, quando chegaram, eles fizeram questão de vir até aqui, e testemunhar, por escrito, a seu favor. Até que enfim algo de bom, não´´?
E ele era ainda irônico. E continua:
´´Mas vamos em frente. Olhares safadamente camuflados para as namoradas dos amigos, fofoqueiro do tipo que gosta de ver o circo pegar fogo, duas caras, sem vergonha, torrava dinheiro do pai, com bobagens...´´
Daí interrompi novamente.
´´Sim, meu caro anjo. Tudo isso perto do que estamos vendo por aí, não é nada! Mas também estudei, trabalhei prá, e como burro, casei, me emendei, cuidei, e muito bem, de quem deveria cuidar, nunca fui perdulário, nem safado...ééé com algumas raras exceções, admito. Mas antes que você diga que não fiz nada mais do que minha obrigação, digo, que fiz por amizade. Bonito, não?´
E ele: ´´Mais ou menos´´.
E o papo continuou, entre pecadões e boas´´ açõezinhas´´. No final, ele olha para os números da contagem, e se espanta tremendamente, e diz:
´´Nunca vi acontecer isso antes. Meu Deus, e agora?´´
Fiquei aflito. O que terá havido? E ele continua:
´´Preste atenção. A sua pontuação o livra do inferno!´´
Fiquei surpreso, se bem que há ouvi dizer que o inferno tem seu lado divertido, será? E ele continua:
´´E sua pontuação também o livra do purgatório. ´´
Fiquei feliz. Já falaram que é um lugar chatérrimo, sem a menor graça.
E o anjo continua:
´´Entretanto, sua pontuação não permite que entre no céu!!!! E agora???´´
Humpt! Éééé...só comigo mesmo. E agora??? Mas sobreveio uma ideia.
Me aproximo do anjo, e sugiro:
´´Seu anjo, vai aqui uma sugestão para o impasse. Qual? Simples. Me devolva novamente ao mundo dos mortais. Me deixe bastante tempo por lá, para que haja um desempate. Que tal? Daí veremos para onde irei´´.
Ele olhou prá mim com um sorriso meio maroto, meio espantado. Não disse nada.
De repente!!! Me vejo no chão do meu quarto. Tinha caído da cama? Teria sido verdade tudo aquilo? Ou apenas um sonho?
Bem, em todo caso, vou vivendo de um pecadinho aqui, uma boa ação alí, cuidado para não sair do empate. Éééé...o segredo é esse. E assim vamos ficando por aqui, enquanto der.
Seja sincero. Não é uma boa???
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