quarta-feira, 19 de junho de 2019

Colorindo o descolorido

                                    Colorindo o descolorido
                                                  Márcio Barker

casadovelho.com.br

Abandonado, largado sozinho num canto, um velho álbum. Um álbum de fotos...fotos antigas.
O velho álbum perdido, sujo, rasgado, empoeirado, dá o tom de sua idade.
Mas o que tem naquele álbum? 
Bem, deve ter o que todos  velhos álbuns, têm.
Fotos, esmaecidas, amarelecidas apagadas. 
E, naquele preto e branco envelhecido, lá estão as cores de doces momentos, que o tempo não apaga. 
Tempo e lugar que, quem sabe sequer existam, assim como os personagens que lá estão.
Mas naquele álbum em especial,  apenas eloquentes e magníficas fotos...ainda mais ou menos coloridas.
Cena de um casamento. O par é ainda jovem,  com todos milagres que a juventude produz.
A noiva, pequena, bonita, alegra em seu magnífico vestido que se estabeleceu usar, em ocasiões como aquela.
Flores no cabelo, buquê nas mãos.
O noivo, rapaz magro, elegantemente em seu terno creme.
As fotos contam a história de um momento que, para eles, certamente é único.
Página virada, novo capítulo, novas expectativas, sonhos, esperança, felicidade.
Na igreja, abundam fartos, porém sóbrios sorrisos. Sorrisos orgulhosos, sorrisos únicos. 
Olhares de de aprovação, de estima, de admiração.
Nos jovens corações, a promessa de que tudo, literalmente tudo, seria feito, alcançado, conseguido, conquistado.
Aquela seria uma união a qualquer prova. Inabalável, indissolúvel, sincera, amiga, companheira.
Sim, amigos, companheiros, amantes, por todo uma eternidade.
Alianças são trocadas,  são lidas frases benditas, de um livro de orações. 
O padre de plantão, anuncia  e jura, que as bençãos divinas e eternas, acompanharão o jovem casal.
O jovem casal  se beija apaixonadamente, e o sacerdote sentencia a fatídica frase:
"Até que a morte os separe...."

Os sorrisos orgulhosos, os sonhos, esperança, expectativa, os olhares de aprovação, os olhares apaixonados, o beijo, se foram. 
Impiedosamente, a verdade do tempo descoloriu tudo. Com os anos quem sabe sobrem pequenos ecos.
Nada tão mentiroso, quanto o tal "Até que a morte os separem"
Como pode, apesar dessa sentença,  tantas cores, se perderem?
Serem esquecidas?
Transformadas em meros pontos de referência?
O olhar esperançoso, o sorriso de felicidade, a expectativa, a alegria...também perdidos?
Quem sabe?
Mas...
Nova página virada.
Novos capítulos.
Novos sonhos.
Novas expectativas.
Enquanto houver a existência. haverá tudo isso.
E por que não?
E, como uma obrigação,
um desejo,
uma teimosia,
uma insistência,
o desejo, sublime, verdadeiro, inabalável
de voltar a colorir...o descolorido.
Essa deve ser a graça de tudo.

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