terça-feira, 29 de setembro de 2020

 

Música & História

A Doce e Libertadora Anarquia

istockphoto
Cabelinho curto, bem penteado, elegante, muito bem comportado, obediente, estudioso, quem sabe também religioso, somente bons pensamentos (ao menos teóricamente)
Cabelos compridos, caprichosamente, penteados, elegante (saia bem prá baixo dos joelhos), muito bem comportada, obediente, virgem, provavelmente normalista,  estudante de piano (clássico), alma e desejos cândidos (ao menos teóricamente)
Receitas clássicas, consagradas, indiscutíveis, reservadas a uma parcela significativa da população. Quem? Os jovens. (Logo eles)
Regras que se contrapunham a natureza rebelde, curiosa, insaciável, incansável, alegre, do jovem, seja lá de que época ou lugar.
É daquela época um curioso ditado: ''Ninguém nega que tanto os bêbados, quanto os casais furtivos de namorados,  tenham um anjo da guarda poderoso''. Não é mesmo?
A sisuda sociedade da primeira metade do século vinte, impunha um código absurdo para o que julgava o ''bom comportamento''.
Um bom exemplo era o namorico na sala de casa, ou no máximo, no portão, sob olhares marciais que controlavam qualquer deslise (principalmente das mãos), maior proximidade física, ou alteração do volume na região pélvica masculina.
Estava próximo o confronto entre essa repressão e a rebeldia. Em plena década de cinquenta, no pós guerra, não havia cabimento prosseguir nessa situção.
E o rompimento veio. De repente, inesperadamente, chocante, rompedor. Não haveria mais volta. Era a ãnsia pela liberdade, a busca do reconhecimento, era um grito que dizia: ''Eu estou aqui! Eu existo! Quero meu espaço!!! Me respeitem!!!
Era o grito do jovem. E, por trás dele, a irreverência, as cores, a safadeza, o  humor debochado,de um gênero musical que ganhava espaço, na contramão: o rock'n roll!
Olhem só.



segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Música & História 02 - Noel Rosa

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Noel Rosa


Noel Rosa
Márcio Barker

google


Viveu bem pouco, mas...viveu!!! Os poucos anos vividos por Noel Rosas, valeram por muitos mais.
É de se perguntar, como um camarada que chegou apenas aos vinte e seis anos, pode deixar composições incríveis. Ele foi um cronista de seu tempo. Irônico, humorado, satírico, romântico, aliás, diga-se de passagem que, seu romantismo ia bem além da simples rima, ''dor'' com ''amor'', aliás surradíssima.
Mas, se Noel se notabilizou com um romantismo praticamente único, ele também soube falar, e muito bem, das coisas do cotidiano.
A inspiração de Noel estava nos seres humanos com quem cruzava, em seu dia a dia carioca.
De coisas praticamente banais, desapercebidas, simples, sem importância, Noel Rosa sabia tirar a essência para composições únicas.
Exemplos não faltam. E, um ótimo exemplo está numa passagem que ocorreu com Noel, na cidade de Campos, no Rio de Janeiro.
Conta-se, que numa excursão naquela cidade, alguém se aproximou, e pediu uns dez mil réis, a Noel Rosa. Pediu emprestado, e que, na semana seguinte pagaria.
Noel emprestou.
Passou uma semana...bem, na verdade foram várias as semanas passadas, e Noel nunca mais viu quem pediu, e muito menos os dez mil réis.
Se isso acontecesse comigo, ou com você, é bem provável que, no mínimo iríamos espumar de raiva.
Mas Noel era Noel. Esse fato desagradável serviu como inspiração, para um ótimo samba, em forma de carta: ''Cordiais Saudações''.
Ouçam, e divirtam-se com o humor e inteligência de Noel Rosa


sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Um Pouco de Música & História

                      A Voz do Povo
Márcio Barker



pinterest


Mal iluminada, suja, poças d'água.
O local é uma zona portuária que, como todas as zonas portuárias é um universo particular.
O caminhante vai zanzando, dependurado em seu cigarro já meio fumado.
Embalado, e distanciado de suas tristezas pelo álcool, ele cantarola uma canção. Ela fala de amores, desamores, desencontros sentimentais, de mulheres inalcançáveis, amores impossíveis. Já é meia madrugada, e aquele boêmio não tem pressa de regressar. Talvez até se pergunte, ''para onde''?


Senta numa mesa, de um dos infinitos bares ordinários, sujos. Mas um universo de sentimentos, olhares perdidos, paixões, que o bandoneon e a guitarra traduzem em magníficos tangos.
Era a Buenos Aires das primeiras décadas do século vinte.




whereyart.net

Na avenida, o cortejo segue firme. Algumas pessoas empurram um pequeno carro, onde está o caixão de quem morreu. Atrás, rostos duros, tristes, lágrimas, inconformismo, tristeza, almas abandonadas pela tristeza. Mão com mão, mão no ombro, mão que afaga uma cabeça desconsolada. E, lá atrás, a música triste, que fala de uma angústia inconformada pela partida.
O som de uma tristeza cortante, induz as lágrimas, os lamentos, a dor. Trompete, trombone, clarinete, banjo e o whasboard, dão o tom. É a banda.
Tudo é inconformismo, pela perda, pela partida, pela ausência.
E, compasso por compasso, a banda exalta aquela dor. É o respeito diante da morte.
O caixão desce a tumba em meio a orações e lágrimas de todos. Uma última flor é jogada. Depois pás de terra selam o final de mais uma existência.

Rebirth brass band
Então, como mágica, na volta, a banda toma a frente, tocando, por exemplo a alegre ''When the saints go marching in''.
Atrás, o cortejo toma outras cores. As cores da alegria, felicidade, esperança, exaltação. Todos dançam, riem, pulam, sorriem, e a banda, compasso por compasso, exalta aquela alegria.
O som é de uma  felicidade contagiante, que induz os corações a pulsarem vida.
Sim!!! É a alegria pela continuidade da vida...seja aqui...seja em outra dimensão, porém, vida!
New Orleans, na mesma época, comecinho do século vinte.

fotosearch




O clima é quente. No ar respira-se as cores do local. Morros verdejantes de um lado. O mar de outro.
Despojado, aquele rapaz caminha pela calçada, da rua de um bairro periférico.
Alegre, cuida bem de sua companhia. Sim, a companhia que estará ao seu lado, para falar de amor e desamor, mas em tons leves. Também, para falar do doce cotidiano descompromissado, humorado, engraçado, de um ser que, como ele, pupula pela cidade bonita, colorida, iluminada e alegre. Aquela companhia, daquele rapaz, também o ajuda a ter esperança, e não deixar a vida desandar: o violão. O mesmo violão que poderia ser um ''passaporte'' para a cadeia, já que, na época, ''era coisa de vagabundos''.
nosso.jor.br

Logo, ele encontra amigos, que, numa esquina, ou varanda farão aquela bela roda de risadas, cervejas e muita música.
Ali reunidos, cada qual empunha seu instrumento. Pode ser flauta, violões, cavaquinho, bandolim, pandeiro, quem sabe um acordeon, dizem que até piano. Mas fiquemos nos cinco primeiros. Sim, mais baratos, leves e, nem por isso, menos virtuoses (claro, desde que em boas mãos).
E, entre um ''vamos tocar essa'', e ''vamos tocar aquela''. Alguém lembrou de um violonista virtuose e  compositor inspirado.
João Pernambuco.
Rio de Janeiro, na mesma época. Inicialzinho do século vinte



Rosa Carioca, com Leandro Carvalho

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Tá Tudo Bem

                Tá tudo bem

Márcio Barker

intenet

Sabe? Outro dia, caminhando pela rua, tive a impressão de ver você.

Estava do outro lado da rua.

Pensei em ir até lá, e dizer algo. Mas não deu tempo.

O seu ônibus chego antes...

Ééééé...mas tá tudo bem.

Outra hora nos falamos...

E no meio do corre-corre da cidade,

tenho certeza que vi você lááááá´...bem longe...

no meio do mundaréu de gente.

Quis falar com você...

...mas a hora estava apertada...

Fazê o quê?  Tá tudo bem.

Hoje recebi um cartão pelo correio,

com uma mesagem impressa.

Dizia: ''Até qualquer hora''.

E do outro lado do cartão,

a letra que reconheci.

Estava escrito assim: ''Te vi...de longe. Não deu prá falar...fazê o quê?''

Não faz mal. Outra hora, quem sabe...

tá tudo bem.

O ônibus chega.

Subo, e de longe reconheço seu rosto, olhando para o meu.

Acenamos. Algo foi dito...mas não nos escutamos.

Fazê o quê? Tá tudo bem.

Tarde da noite.

Vindo em sentido contrário, na mesma calçada,

um vulto que advinho de quem seja.

Nos aproximamos,

nos reconhecemos,

nos olhamos,

nos calamos.

Apenas nos perguntamos.

''E daí,  tá tudo bem?''


domingo, 20 de setembro de 2020

             Amigo

Márcio Barker

internet

Amigo.

Já pensou sobre essa palavra?

Pode ser chato,

grudento.

Pode ser mudo, ou falante pelos cotovelos.

Pode ser palpiteiro,

falar nas horas erradas...

...mas... é um amigo!!!

Pode não ter hora prá visitar você.

E muito menos para ir embora.

Aquele cara distraído,

que não se dá conta do tempo.

É...

mas é seu amigo!!!

Quem sabe aquele que está sempre duro.

E não liga em pedir...

Mas é o mesmo que,

quando você está duro,

não se importa em dar o quanto que você pede.

Pois é, seu amigo, não é?

Ele pode chegar fora de hora.

Falar na hora errada.

Mas que também é aquele que diz aquela palavrinha que dá alivio.

Além disso, pode também, chegar na hora que você precisa.

Amigo???

Sim...não é?

Brigou com você...

disse cobras e lagartos...

fez cara feita...

saiu pisando firme e batendo a porta...

desagradou você...

Pois é...mas ele  tinha razão...

e amigo, que é amigo, 

não é aquele que só passa a mão na sua cabeça.

Então, me escute...

cuide bem, de seu amigo...mas amigo de verdade....

Ele está aqui para o que der e vier.

VIU????




quinta-feira, 17 de setembro de 2020

                        Apesar de...

Márcio Barker

internet

Por que a alegria intensa no encontro...

...apesar da certeza da separação próxima?

E por que tanta pressa em ir...

...apesar  da volta  inevitável?

Por que   tanta certeza...

...apesar de,  no íntimo,  restar uma dúvida?

Por que me preocupo tanto por você...

...apesar de sua vida não me pertencer?

Por que a alegria no alvorecer...

...apesar da melancolia do entardecer?

Por que a pressa em chegar...

...apesar da imensa distância que falta?

Por que a ânsia em estar lá...

...apesar de ainda estar aqui?

Por que sonhar...

...apesar de saber que logo despertará?

Por que tantas dúvidas...

...apesar  de saber que esse mundo é uma incerteza?


Por que? Por que? Por que?

 ''Por quês'' que nada valem...

...mesmo que existam infinitos ''Apesar de...''

E a vida segue.