quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

                                                                               Era

            Márcio Barker


internet

Era tão longe...

Era tão difícil...

Era raro.

Era sofrido.

Era também demorado.

Era longo.

Era bem distante.

Era um sonho...

Era uma esperança...

Era cansativo.

Era um tempão pra chegar

Era muito a suportar

Era demais o caminhar

Mas....

Era tão bom!

Muito bom!

Valeu, por que não?




quarta-feira, 28 de setembro de 2022

 

Ontem eu sonhei com você

Márcio Barker

internet


Sabe? Hoje eu sonhei com você.

Aliás como eu desejava, já há um tempinho.

Mas que decepção.

Não fui romântico,

ousado,

inspirado, amalucado,

ou quase tarado (no bom sentido, viu?) (no "mau" também)

Não. Não fui.

Que tristeza!

Decepção.

Sabe?

Fiquei parado,

só olhando pra você.

Um espectador,

de cada detalhe seu.

Ouvindo atento ao que me dizia.

Atento, também aos detalhes de seu corpo.

Detalhes com os quais eu sonho.

E não tenho vergonha de confessar.

Não tenho, pois não é pecado....e mesmo se fosse...

ou especialmente se fosse.... não ligo!

Pois seria legal.

Meu coração iria desandar, numa abençoada desordem.

Que bom pois ele anda precisando disso.

Fui juntando cada detalhe seu,

cada olhar, cada gesto.

E, na minha imaginação igual ao meu caleidoscópio de menino,

percebi você por inteira.

Sim!

Os poucos pedaços, que já tenho de sua imagem.

Que guardo com todo cuidado, viu?

CS pedaços  me dizem que você é especial.

Sabe?

Tomara que eu sonhe outra vez com você.

Prometo não ser bem comportado!!!

Juro!!!

Será pecado???

Mesmo que seja!!!

terça-feira, 13 de setembro de 2022

 

O Salto

Márcio Barker

                                                                           imagem: internet


O Souza já tinha passado dos sessenta. Até aí, nada demais. Mas, acontece que estava, digamos, meio surrado, desgastado, sofrido. Eram vértebras já mal posicionadas, na coluna, próstata   sempre problemática nessa idade. Joelho ruim.  Ereção duvidosa, instável, descontinuada.  Mau humor, pigarro insistente, devido a anos de cigarro, flatulência excessiva, e por aí, vai.

Estudou até o ensino técnico, e não se interessou ir mais além. Já estava bom demais. Trabalhou anos numa firma na  área financeira, contando os dias para a aposentadoria. 

Quando se aposentou, logo colocou aquele conhecido “uniforme”: paletó de pijama e chinelos (com meia, no inverno). Sua preocupação, digamos, intelectual era jogar  dominó, com semelhantes a ele, assistir TV, ir ao supermercado (pra reclamar dos preços, aliás, sua única manifestação de rebeldia consciente. O que ficava no inconsciente os intestinos completavam a sua revolta. Eram caganeiras de origem nervosa,  fenomenais).

Aposentado, ia ao banco sempre que precisava de dinheiro. Aposentaria modesta, que resultava numa vida muito bem controlada, para que as coisas não desandassem.  

E o banco, onde recebia sua  aposentadoria,  era daqueles que primava por um atendimento bem ruinzinho. 

Talão de cheque? Só no mês que vez... ad infinitum. E, para dizer a verdade o Alves não ligava para esse ''detalhe''. preferia pegar  o dinheiro ''in natura''

E todo mês era aquele mesmo inferno, na infernal fila.

Nela, Nada  escapava de seus olhos, e crítica.

E, aquelas horas infinitas na fila davam vasão ao seu senso crítico, filosofia e raiva.


Puta que pariu, até quando? Olha o tamanho desta fila. Atrás de mim, essa velha, já meio gagá. Na frente, esse caduco peidorreiro. Só comigo.

Hummm, qual dos caixas que vai me atender? Será aquele com barba por fazer, ou a gostosa do lado? Já sei, aposto que será o cara com barba por fazer. É sempre assim. Puta merda, será que não dou sorte, nem nisso?

Cacete, acho que esqueci minha identidade. Caralho, se esqueci, e agora? Deixa ver. Ah! Está aqui, puta merda, ainda bem.

E aquele idiota, ali na frente. Olha só nas mãos dele: conta de luz, água, telefone, carnê de não sei o quê, imposto de renda, aluguel, prestação do carrinho velho e mais a puta que  o pariu. Puta que pariu mesmo! Olha só tempo para ser atendido. Será que vive na Idade da Pedra? Esqueceu que pode pagar no caixa eletrônico? Vai ser burro assim na puta que pariu.

Hummmm, olha só aquela gracinha. Gostosa, heim? Dá até pra ver a marca da calcinha. Olha lá, toda sorridente, solta,  falante, lustrosa. Que peitos....éééé, mas já era. Tô velho. É remédio para baixar a pressão, e subir o bilau. Contraditório! Lembro do meu amigo Vilmar que dizia querer ficar indiferente, depois de certa idade. Assim não passava vontade, e nem  pareceria ridículo.

Porra, já estou aqui há uma hora e meia!!! Não, uma hora e cinquenta!!! Quase duas horas, e essa merda da fila não anda. Ah, sim. Acho que o dinheiro da agência acabou, e foram buscas mais, na Matriz.  E até agora não vi nenhum corro- forte chegar. Que absurdo, isso que é competência!!! Pior, agora. Vontade de mijar, Puta merda, e agora? Fudeu.  Tudo é difícil, sacrifício, encheção de saco. E essa meeeerda de fila que não vai. Pooorraaa!!!!


Mais uma hora e meia de fila, Alves finalmente está diante do paraíso, ou seja, na boca do caixa. Mal cumprimenta o funcionário.


Por favor, vim pegar minha aposentadoria.

E o caixa

Toda ela?

E o Sousa

Sim

O caixa

Um momento, vou verificar.

O Sousa

Mas verificar, o quê? Não tenho aumento há séculos!!! É sempre a mesma coisa.

O caixa pareceu não ouvir.

Já exacerbado, Sousa acompanha todo o movimento do funcionário, indo pra lá e pra cá, enroscando em rápidos papos com os colegas,  tomando cafezinho, risadas, gracinhas com as colegas, abrindo e fechando gavetas de arquivo, verificando, anotando.

Depois de um século e meio, o funcionário chega no guichê, e diz tranquilamente:

Seu Sousa, o seu pagamento só cai amanhã.

Depois me contaram que, ignorando as suas dores na coluna, o Sousa deu um belo salto sobre o balcão, e com as mãos crispadas, tinha como alvo, o pescoço do pobre caixa do banco.

Depois? Não sei o que aconteceu.






sexta-feira, 12 de agosto de 2022

 

O Inconveniente

Márcio Barker

Entro na cozinha de casa. Lá estava minha mãe colocando as compras da feira sobre a mesa.

No meio delas, destacava-se um pacote de papel higiênico, daqueles de folha dupla, finíssimo, e que anunciava-se como ''macio''. Entretanto, o que me chamou a a atenção, foi um rolo solitário, de outra marca. Não era branco, nem de forma mais delicada, e parecia uma lixa. Era o ''Tico Tico”

Daí, o diabo manda a inevitável pergunta:

  • Ué, por que esse é diferente?

Minha mãe era uma senhora bem típica daqueles anos cinquenta. Além disso, arrogante, elitista, preconceituosa (mas também tinha sua parte boa)

Sem olhar pra mim, foi dizendo:

  • Ora. É para a Josefa

Josefa era a faxineira da casa.

Completamente estranhado, veio outra pergunta (creio que também a pedido do diabo)

  • Mesmo? Então me explique uma coisa.

Atenta ela se dignou olhar para mim

  • E o que é? Pode dizer

  • Não entendo (disse eu). Me diga quais seriam as diferenças básicas entre o seu cu, e o cu da Josefa. Se o cu da Josefa tem pregas, o seu também, se ele, via de regra, não cheira lá muito bem, o seu cu também. Não é? Então por que a diferença entre os papéis higiênicos? Se você acha que seu cu é mais delicado, do que o dela, engano seu.

Hecatombe!!! Começou a gaguejar e a tremer (suponho que ódio), mas eu conhecia bem essas reações. Levantou, e saiu sem dizer nada. E eu insisti:

  • Não vai me dar um motivo?

Nem ouviu.

Minha mãe tinha muitos problemas, um deles era se apoiar em meu pai, quando não conseguia enfrentar algum contratempo.

A noite, eu já esperava. Meu pai veio falar reservadamente comigo.

Coitado dele, o que teve que aturar ao longo da vida!!! Mas era um cara legal. Bem humorado, apesar de aparentemente sério e discreto, culto, educadíssimo, um lord, como os descendentes ingleses dele. Falava baixo, pausadamente. E começou.

  • Márcio.

  • Fala, pai, já sei, minha mãe foi falar com você. Respondi.

  • Sim. Ela me contou.

E eu

  • A história do cu?

Perdeu o rebolado. Ficou sem o que dizer por uns segundos. Se refez, e prosseguiu.

  • Não quero entrar em detalhes. Mas que falta de respeito. Por que você é assim??

Respondi.

  • Falta de respeito é ela quem tem. Que absurdo. Pergunto a você, que é um cara informado e consciente: existe alguma diferença entre os dois cus? O cu da mamãe, e o cu da Josefa? Seja sincero, não dissimule.

A essa altura meu pai estava meio azul, quem sabe angustiado, não sei se pela pergunta, ou pelos termos. Mas fiquei em dúvida. Certamente, imagino, ele deveria conhecer o cu da primeira, já o da segunda, quem sabe não. Não sei se foi isso que tirou a fala dele. E eu continuei.

  • Veja. Esse gesto aparentemente simples, carrega em si, uma discriminação. Ao supor que o cu dela (perdoe-me o cacófato) seria um cu superior, um cu à parte, um cu em outro plano, em relação ao cu da Josefa. Isso demonstrou uma total insensibilidade, inclusive com um local, que é sabido em todos, ser sensível. Você não concorda? Creio que o seu também goze de uma sensibilidade normal, como em qualquer ser humano. Afinal, cu é cu. Esse é o motivo de minha revolta.

Ele continuava preocupantemente mudo, me olhando sem piscar, ainda com o seu Fulgor Ovais entre os dedos da mão esquerda. Era o cigarro que ele fumava. Respirou, e recobrou a razão, e foi dizendo.

  • Eu não sei de onde, como ou porque você é tão mal educado. Ninguém aqui ensinou má educação a você.

O que era verdade, confesso. E ele continuou.

  • Isso não são modos de falar. Que coisa horrível, faça-me o favor. Absurdo.

Interrompi.

  • Me perdoe, mas absurdo é tratar as pessoas como se fossem inferiores.

E ele prosseguiu.

-Usasse palavras, mais adequadas, mais educadas, sem nominar o objeto em questão.

Divergi.

  • Você queria que falasse o que? Que o ânus da mamãe é igual ao ânus das Josefa? Que inexiste diferença entre ambos fiofós? Ânus, fiofó, reto, ou cu, da na mesma. Cu, inclusive é uma palavra mais objetiva, clara, evidente, vibrante. É exatamente o mesmo detalhe do corpo humano, ou seja, um anel, corrugado, geralmente fedorento, dependendo do trato que se dê que, e tem função vital, inclusive do lado recreativo, dependendo da filosofia de cada um.  Ânus, reto, fiofó ou cu, é tudo cu. E cu é cu.

Virou as costas abalado. E foi embora.

E eu tenho certeza que foi a sua boa educação,  que o impediu de mandar-me tomar no cu.


quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

 

Espelho sincero

Márcio Barker

                                                                     internet

Sou um cara sincero...

(até onde for possível)

Ah, sim. Também não minto...

(sempre que possível)

Ultimamente tenho uma novidade...

que imagino não seja lá tão boa:

Estou envelhecendo!

Chato, não?

Mas quem não envelhece?

Pois é, e daí?

Entro no banheiro,

e dou de cara com ele: o espelho!!!

Insensível,

carrasco,

e sincero. 

Terrívelmente sincero.

Impiedoso, logo vai monstrando minha tragédia:

clareiras no cabelo, desnundando uma futura calvíce.

Canseira nos olhos...apesar de não sentir-me cansado.

Ah, sim! A canseira é no olhar. (pior, ainda)

E tem mais, o opaco da pele, quase me cega,

Nos lábios noto a necessidade de preenchimentos...

E, no rosto, a coisa não está pior, por causa de cremes....

...cremes hidratantes!

Quem diria!!!

E não é só.

Pilulas pra isso e aquilo.

Uma para abaixar o que sempre foi baixa, e deu de subir...

.e outra para levantar...o que sempre subiu sem necessidade de qualquer pilula,

bastava a força do pensamento...

Maldito espelho, que brincando me diz,

que hoje sou outro -

segundo ele sou:

maduro, culto, ilustrado, senhor de meus atos, com glórias e vitórias.

Afinal, é a “melhor idade”!!!

"Melhor idade"???

Arranquei-o da parede.

E com fúria,

o reduzi a mil pedaços!!!

O que mais quero, são os meus 25 de volta,

com meus doces sonhos, e gratas ilusões!!!


terça-feira, 25 de janeiro de 2022

 


O Herói?

Márcio Barker


                                                                            internet


Lá está ele, no alto de sua glória.

No imenso pedestal de suas certezas.

Na segurança de sua infabilidade.

Lá vai ele, avante, com sua bandeira,

levando adiante, aqueles a quem guia.

Guia numa certeza absoluta,

sem hesitação,

sem receio,

sem dúvida!!!

Sim!!!

Igual a todos que nele se protegem,

se alimentam, sobrevivem...

,,,sobrevivem de sua certezas...

...inabaláveis.

É ele, o herói,

o guia,

o líder inconteste!

Dele não há que duvidar,

hesitar...

criticar!!!

Porque é ele o herói!!!

Por ele há que lutar, defender,

se rasgar...

matar...

morrer!

Ele anuncia um novo tempo...

um novo mundo...

...que muitas vezes termina no fundo de um abismo!!!