O Tio Luiz
Márcio Barker
Outro dia, lembrei dele, meu tio Luiz.
Nossa, como faz tempo!!! Irmão mais jovem da família de meu pai. Era também, meu padrinho.
Personagem na história de minha infância, adolescência e juventude. Era médico.
Estatura média, rosto jovial, bigodinho fino. Morou muitos anos na casa de minha avó materna, Ana.
Tinha um jeito particular de caminhar, que chamava minha atenção. Chegava na casa de minha avó, sempre numa motocicleta. , todo encapotado. Chamava ela de "Zefa". Fotografei algumas imagens dele. Uma delas, dizendo como eu devia tomar corretamente o café com leite, sem fazer barulho.
Simpático, ar calmo, ele me transmitia tranquilidade. Havia, ainda, um certo ar bem humorado e ironia.
Uma vez uma vizinha mandou um doce para minha avó. Quando ele encontrou o tal doce, “formigão”, não só comeu tudo, como pediu mais, Quando ficou sabendo que tinha sido enviado pela vizinha, não fez por menos. Foi no quintal de casa, e ficou falando em alto e bom som: “Que vergonha! Prá que mandar essa miséria de um doce tão gostoso, que mal dá pra um?” E arrematou, “melhor seria não ter mandado nada!”, Tudo isso, naturalmente para desespero de minha envergonhada avó.
Gostava quando ele chegava em casa, Entrava, e já ia sentando ao piano e, como prefixo, abria com “No Rancho Fundo”, de Ary Barroso.
Jovial, era a alegria de meus primos mais velhos. Um verdadeiro “profeta”. Sempre com ar esportivo, e com novidades, convidou, e foi (e voltou) a Bahia, no seu carrão, com meus primos mais velhos. Um dia, passou em casa, me levou, com um de meus irmãos, para velejar. Foi uma aventura e tanto.
Uma vez eu o encontrei, no trânsito, num bug. Muito bem acompanhado (pra variar), usando um rabo de cavalo. Estava com sessenta anos!!! Invejável. Outra vez, o vi sozinho. Me disse que “estava dando um tempo”, com a namorada. Tinha, então uns sessenta e pouco.
Simpático, boa conversa, minha avó contava os inúmeros telefonemas, com diferentes vozes femininas. “Por favor, do Dr. Luiz está???” Mesmo pequeno, eu morria de rir
O jeitão liberal, e desencanado, não demorou em despertar a ira de minha mãe, uma conservadora. Como não nos dávamos muito bem, volta e meia, minha mãe dizia com raiva: “Você parece filho do seu tio Luiz”. Eu achava muito engraçado. Quando estive no aniversário de oitenta anos de meu tio, eu contei a ele essa história. Ele riu, e disse: “Mas isso foi um elogio.”
A última vez que o vi, foi no seu aniversário de noventa e um anos. Lá estava ele com o mesmo jeito, rosto liso, sorrisinho, simpatia, brincalhão, irônico, jovem. Ah, sim. E com seu eterno rabo de cavalo.
Dei um longo abraço, no tio Luiz, E, brincando, eu disse: “Tio, eu sei qual é o segredo de sua eterna juventude.”
“Qual?”, perguntou.
Respondi:
“Seu bom humor, e as mulheres.”
Foi a gargalhada mais gostosa que ouvi. Uma gargalhada de noventa e um anos!!!
É um privilégio, não é?
2 comentários:
Deveras um privilegio um tio assim. As vezes as pessoas nos marcam pela irreverencia. E as marcas ficam pra sempre. Como essa de rabo de cavalo que vc acaba de contar. Siga contando suas "marcas", e suas historias. Sao boas.
Postar um comentário