Pelo
amor de...
Márcio
Barker
internet
Minha
vida nunca foi de grandes novidades.
Por
exemplo, oriundo de uma família católica, me fizeram cumprir o
script:
Fui
batizado, crismado, fiz catecismo para a primeira comunhão e, volta
e meia, era obrigado a comungar.
Eu
tinha uma tia, (tadinha sei que era com boa intenção, se bem que o
inferno está cheio delas.) que volta e meia vinha toda sorridente,
com um ar maternal e ia dizendo pra mim:
“Marcinho,
a tia fez uma promessa para você.”
Eu
gelava, num misto de raiva com arrependimento, pois era “pecado”
sentir raiva daqulo.
E,
nem me lembrava de saber com que intenção ela tinha feito a tal
promessa.
E
depois ela complementava:
“Olha,
todo domingo, por três meses, nós dois vamos comungar juntos, tá
bom?”
“Tá
bom”, nada!!! E eu me perguntava porque ela sempre tinha que me
colocar no meio das promessas que fazia.
Pequeno,
não tinha direito algum, senão resignar-me, e nos próximos três
meses, ter que confessar, e comungar.
Confessava
no sábado, e comungava, no domingo. O problema era que, do sábado,
ao domingo, eu não poderia “pecar”, caso contrário acho, que
prejudicaria a comunhão, no domingo.
O
duro era confessar. Mas confessar o quê??? Ainda menino, era um
inocente, ainda longe dos pensamentos inconfessáveis que viria a
ter, alguns anos depois (Aliás, e principalmente quando comecei a
namorar...)
Daí
entrava no tal do confessionário e, diante de um cara que nunca vi,
tinha que ficar falando mal de mim mesmo. Não tinha o que dizer.
Inventava “pecados”. Lembro que em casa haviam galinhas. E, uma
vez, eu disse que não era muito legal com elas. Que as aborrecia.
Sim, às vezes gostava de correr no meio delas. Seria pecado? Bem, o
padre mandava rezar algumas orações. Hoje, fico pensando se ele não
julgava que eu costumava "enrrabar" as galinhas!!! Bem, nunca fiz isso,
pois no tocante a essa atividade, eu preferia (como continuo
preferindo) a minha própria espécie, mas do sexo oposto, bem
entendido.
Bem,
mas a coisa não parava por aí. Segundo a promessa de minha tia,
depois dos três meses, a última comunhão deveria ser feita numa
cidade, famosa pela religiosidade, e pelo comércio da fé, cidade
que nunca gostei mesmo!!! Detestava ir até lá.
Tudo
aquilo que eu via por lá, era mórbido demais. Mas, eu era pequeno,
heróicamente tinha pouco a fazer, mas, ao menos, sabia que era a
última vez que teria de passar por tudo aquilo.
Lembro
de um tal “salão dos milagres”, que era onde os fiéis, que se
sentiam atendidos, agradeciam neste salão. Se o cara sarou de uma
doença na mão, ele em agradecimento depositava uma mão, de cera.
Se ele teve um problema no pé, depositava um pé de cera. Hoje
lembrando, vejo que os tempos eram bem outros, pois numa época, em
que não havia o Viagra, não lembro de ter visto nenhum “membro”
masculino, de cera. Digno de nota.
Me
recordo, que fiquei particularmente curioso, quando vi depositarem no
tal salão, um agradecimento em meu nome: uma cabeça de cera!
Engraçado
que tudo aquilo para meus olhos de garoto, era algo além de minha
compreensão.
Uma
vez compraram um quadro de Cristo, aquele célebre, com o coração
sangrando nas mãos. Aquela figura me impressionava mal.
Colocaram
o quadro na parede, chamaram um padre. Disseram que era para
“entronizar” o quadro. Hoje nem faço ideia do quadro, nem do
que é “entronizar”.
Acho
que sou meio iconoclasta e, um reles pecador. Se bem que, a palavra
“pecar” tem muitas interpretações.
Não
sou religioso, apesar de todo esfôrço de meus país, e de minha
tia. Não sou daqueles que “Deus isso”, Deus aquilo, e aquilo
outro. Não gosto de incomodar, me viro com as ferramentas, que me
disseram que ele nos dá.
Me
contaram que Deus nos teria feito a sua imagem e semelhança. Sempre
tive grandes dúvidas sobre isso. Penso que é o contrário. Nós
julgamos Deus, como a nossa própria imagem de humanos. Daí, ouvir
falar de um Deus, violento, vingativo, carrasco, pronto a nos
enquadrar como pecadores e, e pródigo em castigos.
Mas
quem sou eu para ficar aqui filosofando. Em todo caso, mesmo não
sendo religioso, o meu Deus, é o de Spinoza. O Deus que não vive,
com se julga, em templos escuros e lúgubres, mas na natureza. Um
Deus que não critica, não julga, nem castiga. Pois é puro amor. Um
Deus que se pergunta, como poderia nos castigar, se foi justamente
ele quem nos criou?
Imaginar
um Deus que nos coloca medo, acho eu, que não faz sentido.
E,
contrariando tudo o que me ensinaram na infância, e que fiz questão
de não aprender, e esquecer, na minha imaginação, quando penso em
Deus, acho que ele é um cara legal e inspirador.
Será
que tô certo?
Falando
nisso, será que vou para o céu, quando eu esticar as canelas?