segunda-feira, 3 de junho de 2013

Poupar é preciso

Poupar é preciso - Márcio Barker
Nasceu. Detalhe: em berço de ouro.
Cresceu assim: era só dar um gemido, e tudo caia no seu colo.
Levantava um dedo: era coberto de mimos.
Filho único. Quem sabe por exigência dele. 
Filho único: sem concorrência.
Filho único: todas as luzes do palco para ele.
Cresceu. Dava um gemido: era coberto de mimos.
Continuou crescendo...e a história se repetindo.
Um dia se casou: trocou de mãe.
Trocou de mãe?
Não! Ganhou mais uma mãe. (coitada)
Os dias, semanas, meses e anos passam. 
Era só levantar um dedo e...era coberto de mimos.
Filhos? “Pelo amor de Deus!” Não! Por exigência dele.
Filhos? Não! Sem concorrência.
Herdou tudo. Rico...e daí?
E daí que: não viajava (para evitar gastos)
Restaurantes? Só populares, de supermercados, lanchonetes (tá bom demais, para evitar gastos)
Trabalhava? Não! Só aplicava e reaplicava.
Mimos dele para a mulher? Não! Só ele tinha o direito de dar aquele gemido, com direito a mimos.
Mimos para a mulher? Não. Já bastava ele (para evitar gastos)
E para evitar gastos ele: só ia daqui até ali (e olhe lá).
Só comprava a essência do essencial (e olhe lá também)
Viajar? Prá que? No máximo o litoral aqui do lado (já tá bom demais...e evitava gastos)
E para evitar gastos: seus carros eram antigos, não velhos!
Sua roupa era boa, e moda é bobagem (nada de gastar com coisas tolas)
Em Aniversários, Natal, Páscoa, Dia dos namorados. ...só “parabéns”, “Feliz Natal”, “Boa Páscoa” e um beijo desidratado. (o demais é bobagem...e gastos)
E trepar? Trepava? Às vezes...burocraticamente...senão podia ser mal interpretado e passar por apaixonado...
Ele era durão...nada de paixão (perdão a rima na prosa)
Eremita: sem amigos, sem conhecidos, senão uns poucos escolhidos.
Eremita: fez da mulher o mesmo. (burra!)
Ponto positivo: bom pagador de impostos. (Se bem que nesse país...)
Herança grande, gera bons lucros...e muito imposto. (malditos)
Xingando ou não, tinha que pagar...e pagava.
Dia sim, dia não, uma saudável caminhada aos bancos. (Já estava bom demais para arejar)
Não tinha ( e nem propiciava) luxos
Não se preocupava com a tinta desbotando na parede de casa (ficava prá depois). Poupar é preciso.
Não tinha luxos, não dava presentes, não viajava, não saia de casa, passou a vida comprando o básico. Poupando.
Dizia que poupava para a velhice...mas ficaria velho um dia?
Poupou, investiu, revestiu e lucrou.
Lucrou, reinvestiu e lucrou mais. Lucrou ad infinito.
Alegria ejaculante: acompanhar seus saldos bancários.
De volta de um deles exulta diante das cifras. 
Nem liga para a dor de cabeça que apareceu.
Pastilha? Não, passa logo. Poupar é preciso.
Mas...
Um pequeno vaso explode no cérebro.
Não sentiu nada. Caiu duro, no meio da rua. 
Acho que por ele, ficava ali mesmo, pois poupar é preciso.
Caiu duro, no meio da rua.
Nem teve tempo de se arrepender.
Mas arrepender de que?
Acho que foi feliz assim. 
Sei lá. Vai entender.
O que você acha?

Nenhum comentário: