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Lentilha - Márcio Barker |
Mesa
farta. Fome idem
Camarão
com alho e limão, frito no azeite de oliva.
Arroz,
tinha algumas variações. Carreteiro, com lingüiça; simples; com
cebola; e azeitona preta.
Costela assada no forno com
agrião. No acompanhamento algo eclético: batatas à dorê, quiabo,
polenta frita e polenta ao molho de tomate, farofa, macarrão,
pasteizinhos de carne e queijo
Frango
assado recheado com farofa refogada na manteiga, com alho frito,
azeitonas verdes, salsinha, cebolinha, pimenta do reino e ovos fritos
Batatas:
palha, frita, (já contabilizando as a dorê)
Um
leque de maioneses: de azeitona verde; preta; alho, simples; e ervas
finas.
Tutu
de feijão à paulista; à mineira: e à carioca.
Feijão
fradinho com linguiça defumada.
Uma
pratada de bacon frito e outra de torresmo gordo.
Também
rocambole de carne assada, recheada com legumes.
De
sobremesa, bananas cozidas ao açúcar mascavo, flambadas com licor
de cerejas, derramadas sobre taças de sorvete de creme.
Não
faltaram os lendários pudins de pão e de leite condensado.
Além
de doce de abóbora, doce de leite, fios de ovos na cereja licorosa,
doce mamão ralado.
Sento-me
a mesa.Uma mesa perfeita .Orgulhoso (e com fome), sei que na
realidade eu era responsável algumas dessas delícias.
Gentilíssima,
com sorriso de orelha a orelha, coberta de boa vontade, a Julinha,
minha doce esposa, se apressa em servir-me. Apesar de reconhecer sua
bondade, sempre preferi eu mesmo me servir.
Claro,
sei o que quero, o que não quero, a quantidade, não gosto de
sobrepor alimentos, e toda uma série de esquisitices que tenho. Sou
um chato.
Mas
a afabilidade era de tal ordem, que cedi.
“O
que vai querer?”
Disse ela com aquele bendito sorriso.
Respondi:
“Um
pouco de costela...não, não...menos por favor. Arroz...não, o
simples. Polenta, por favor. Não! Não! A frita. Um pouco de
farofa...”
E
ela me interrompe.
“Quer
lentilha, também?”
Aqui
cabe um parênteses. Não suporto lentilha, mas sempre que tem a
maldita lentilha, ela me pergunta se quero. Mesmo diante de minha
negativa, ela insiste. Querem ver?
E
lá vem ela:
“Lentilha.
Quer também”.
Eu.
“Não.
Muito obrigado.”
Ela.
“Um
pouco de tutú?”
Eu
“Não.
Por favor, só o feijão”.
Ela.
“E
um pouco de lentilha também, né?”
Eu
“Não!”
Ela
“AH!
Tá. pastéis?”
(Adoro pastéis)
Eu
“Sim.
Um por favor.”
Ela
Lentilha”
Eu,
já semi-espumando
“Escute.
Desde que nos casamos, e já fazem al-gu-mas dé-ca-das, nun-ca
co-mi len-ti-lha. E toda vez que tem len-ti-lha você me oferece. Eu
de-tes-to lentilha. Certo?”
E
ela
“Ah...tá.
É mesmo. Verdade. Você não gosta de lentilha. Mas é tão gostoso.
Eu,por exemplo, a-do-ro sopa de lentilha. Não quer mesmo???
Eu
“Grrrrrrr”
Ela
“Tá
bom. O que mais? Ah, sim. O tutú a mineira.”
Eu
“Não,
o a paulista”
Ela
“Um
pedaço do peito do frango...”
Eu
“Não.
A sobrecoxa”
Ela
“Ah,
tá. E um pouco de lentilha...”
Eu
“Put...perdão.
Não!!! Lentilha...NÃ-O!!! Certo?”
Ela
“Como
você é chato, não? Estou querendo ser gentil, e fica assim...nãoé
prá tanto!”
Eu
“TÁ...”
Ela
“Maionese?”
Eu
“Por
favor”
Ela
“A
de azeitona preta?”
Eu
“Não,
da verde”
Ela
“Mais
alguma coisa?”
Eu
“Não.
Muito obrigado!!!”
E
sorrindo, com seu rosto angelical, ela dirige o prato para mim. Um
belo prato escolhido à dedo, mas... Não!!! menos a maldita lentilha
que ela havia colocado, bem debaixo do pastel!!!!!!
À
partir daí eu soube da continuação dos fatos, por meio de
testemunhos dos que estavam à mesa.
Toda
a tigela de lentilha foi esfregada (com reqintes de
crueldade) na cabeça da pobre Julinha.
Após
o que, seu rosto foi afundado, mergulhado e esfregado no pudim (de
pão, pois poupei o de leite condensado por ser o meu predileto)
Quando
eu peguei o frango, para surra-la, fui contido pelos comensais,
vizinhos e seguranças da rua.
Meu
Deus!!! Matei a Julinha por causa da maldita lentilha.
Já
dono da razão, me vejo horrorizado jogado não chão, suado,
molhado, arfante, febril e tremendo. Olho a minha volta. Vejo ao meu
lado, minha cama!!!
Quem
bom! Quem bom! Foi só um simples pesadelo.
Em
todo caso vou enfatizar a Julinha, que nunca mais me sirva
lentilha!!!
Mas
será que vai se lembrar...?????
Maldita
lentilha!!!
Um comentário:
Achei interessante essa história.Parabens.
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