quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Pois é...

               Pois é...
Márcio Barker



Estou me lembrando de você...quem diria!!!
Foram anos de convivência...anos e anos, a fio. Puxa, quanto tempo!
No início as coisas até que iam mais ou menos bem. Às vezes mais...às vezes menos...mas iam. Não é? Sim, é!
Já naquele tempo, você já tinha umas coisas chatas. Uma bem chatas, outra mais ou menos, e outras até que davam para relevar... mas tinha!
Bem. Sei que não sou santo, aliás nem um pouco. Já disseram que não sou que flor que se cheire, que sou uma bela bisca, e tem gente que não põe a mão no fogo por mim.
Sabe? Até concordo. E digo mais, concordo em gênero, número e grau. Eu assumo minha chatice, minha falta de confiabilidade, meu jeito quase marginal.
Mas, como você, também não sou de todo mal. Não! Não! Até que dou para o gasto, e tenho esperança de ir para um lugar bonito, quando for desta para melhor.
Eu reconhecia, como reconheço, suas qualidades. Sim! Verdade, estou sendo sincero, não é demagogia. Puxa! Quanta coisas legal, bonita, diferente, interessante, você já tinha... e tem! Aliás, diga-se de passagem, que devo muito a você. Quase me sinto um ingrato, mas...
Sempre admirei, como admiro até hoje, mas, é... mas, temos que admitir o seu lado mais negro. O lado que me afligia, que assustava, seu lado neurótico, enlouquecido, assustador. Seu lado que me levava à fadiga, ao desespero, ao mau humor, ao cansaço. A relação foi ficando difícil, os ressentimentos cada vez mais numerosos e, pior, maiores.
É...foram anos de convivência ao seu lado. Anos e anos. Reconheço que devo muito a você. Não sei se a recíproca é verdadeira, mas, juro que tentei. Tentei porque no fundo gostava de você, admirava você, reconhecia você. Entretanto, em minha cruel balança, fria e calculista, o que me desagradava em seu ser, pesou mais...e cansei.
Não suportando mais, fugi, corri, fui pra longe de você, para bem longe. Não queria escutar o seu canto de sereia, hipnotizando-me, me chamando de volta. Impossível, nossa convivência se tornou impossível. Que pena!
Mas sabe? Outro dia, sentado por aí, vi de longe o seu nome, escrito num luminoso. É... o coração hesitou. Fiquei sem palavras, sem saber o que pensar... me deu pena e senti um pitada de saudade de você. Fiquei olhando aquele luminoso, que estava escrito em letras garrafais, o seu nome - SÃO PAULO !!!

Pois é...

Petrópolis
Dez/2017

Imagem - http://www.ebay.ie

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