Nossa!
É cavalo prá burro!!!
Márcio
Barker
Quando pequeno, eu olhava
pra ele com admiração!!! Sim, muita admiração. Não só porque eu
o achava bonito, mas pela sua postura nobre.
Alí estava ele, calmo,
sereno em sua elegância. Me impressionavam seus olhos, sempre
absolutamente tranquilos. Ora em forma de tranças, ou aparada bem
curta, ou totalmente solta, a longa cabeleira esvoaçante, dava a ele
a figura da liberdade
Menino ainda, toda manhã,
eu escutava a campanhia de casa. Já sabia!!! Era o padeiro. Saía
atrás de minha mãe. Lá estava a maravilhosa carroça repleta de
filões, roscas, pães doces, e sei lá mais o quê. Duas coisas me
chamavam a atenção, o cheiro delicioso do pão, e o cavalão,
calmo, indiferente, sossegado, lá na frente.
Não podia deixar de
chegar perto. Passava ligeiramente minha mão, em sua cabeça. Eu
sério, ele sério. Eu sorria e, ele, sério. Gostava de seus olhos,
de sua calma, de sua finesse.
Mais tarde, escutava o
“tilim-tilim” da carroça do leiteiro.
“Márcio, vai lá, e
pega três litros”.
Enquanto o leiteiro
tirava os três litros, lá estava eu afagando a cabeço do seu
cavalo.
Eram muitos os cavalos de
minha infância, apesar de ser eu, um paulistano.
Era a carroça do
jornaleiro, do verdureiro, do lixeiro, com uma parelha de cavalos. O
trabalho era sujo, mas os cavalos mantinham sua dignidade e
elegância.
Perto de casa, havia o
elegante Joquei Clube, onde elegantes trouxas que apostavam em
cavalos atletas.
Durante a semana,
tratadores dos cavalos, os levavam a trotar um pouco, perto de casa.
Eram lindos. Brilhantes, elegantes bem tratados e fortes.
Numa manhã, toca a
campanhia. Era o padeiro. Corro para pegar os pães, e ver o cavalo.
Mas quanta tristeza. Todo sorridente, o padeiro mostra sua pequena
perua, para entregar os pães. Mas...e o cavalo? Não estava mais lá.
E assim foi com o
jornaleiro, verdureiro, leiteiro e lixeiro. Meus heróis elegantes se
foram. Eu cresci numa cidade que trocou seus cavalos por máquinas.
Até o Jóquei Clube virou história. É o progresso.
Cresci, fiquei moço,
adulto e, agora, velho. E nunca mais soube de qualquer cavalo.
Outro dia viajei para
Guaratinguetá. Daí, me contaram que no mês de abril, homenageam
São Benedito, com várias festividades. E, para meu espanto e
entudiasmo, dentre elas, está a cavalaria de São Benedito.
Me contaram que mais de
mil cavalos fazem parte desse desfile.
Fui ver.
Alí, diante de eu nariz,
passaram cavalos e mais cavalos. Cavalos marrons, pardos, brancos,
malhados, pretos, marchadores, trotadores, manga largas, e até
pangarés, os meus preferidos. Pois pagangarés, eram os do leiteiro,
verdureiro, jornaleiro, padeiro. Mas todos lindos, exuberantes,
elegantes, calmos, serenos, no seu trotar.
Quis entrar no meio,
passar a mão neles. Mas fui contido. O cheiro me lembrou das
exposições de bovinos, ovinos, suínos e equinos, que, meu pai
biólogo e veterinário, me levava para ver. Pequeno, me enfiava no
meio dos Zebús, de corcova, lindos e elegantes. Corria entre eles,
os cumprimentava, falava algo, e continuava, para desespero, de
minha sempre desesperada mãe.
Mas, eu preferia mesmo,
eramos cavalos. No seu caminhar lento e tranquilo, ou na sua corrida desenfreada pelo mundo, e vida a fora.
Os cavalos de
Guaratinguetá me trouxeram tudo isso de volta, aliás, nem reparei
nos cavaleiros. Eles eram de menos. Para mim, valia, sim, a figura
altiva, de força e elegância, dos cavalos de Guaratinguetá.
Eu cavalguei com eles, de
volta a minha doce infância.
Parabéns a vocês,
cavalos desta e de outras vidas.
Puxa vida!!! Nunca tinha
visto tantos cavalos!!!!
(Escrevi esse conto para
minha querida amiga, Lilian Nogueira, de Guaratinguetá, SP. A você,
um beijo)
Foto de Gisela Nogueira.
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