sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Um Pouco de Música & História

                      A Voz do Povo
Márcio Barker



pinterest


Mal iluminada, suja, poças d'água.
O local é uma zona portuária que, como todas as zonas portuárias é um universo particular.
O caminhante vai zanzando, dependurado em seu cigarro já meio fumado.
Embalado, e distanciado de suas tristezas pelo álcool, ele cantarola uma canção. Ela fala de amores, desamores, desencontros sentimentais, de mulheres inalcançáveis, amores impossíveis. Já é meia madrugada, e aquele boêmio não tem pressa de regressar. Talvez até se pergunte, ''para onde''?


Senta numa mesa, de um dos infinitos bares ordinários, sujos. Mas um universo de sentimentos, olhares perdidos, paixões, que o bandoneon e a guitarra traduzem em magníficos tangos.
Era a Buenos Aires das primeiras décadas do século vinte.




whereyart.net

Na avenida, o cortejo segue firme. Algumas pessoas empurram um pequeno carro, onde está o caixão de quem morreu. Atrás, rostos duros, tristes, lágrimas, inconformismo, tristeza, almas abandonadas pela tristeza. Mão com mão, mão no ombro, mão que afaga uma cabeça desconsolada. E, lá atrás, a música triste, que fala de uma angústia inconformada pela partida.
O som de uma tristeza cortante, induz as lágrimas, os lamentos, a dor. Trompete, trombone, clarinete, banjo e o whasboard, dão o tom. É a banda.
Tudo é inconformismo, pela perda, pela partida, pela ausência.
E, compasso por compasso, a banda exalta aquela dor. É o respeito diante da morte.
O caixão desce a tumba em meio a orações e lágrimas de todos. Uma última flor é jogada. Depois pás de terra selam o final de mais uma existência.

Rebirth brass band
Então, como mágica, na volta, a banda toma a frente, tocando, por exemplo a alegre ''When the saints go marching in''.
Atrás, o cortejo toma outras cores. As cores da alegria, felicidade, esperança, exaltação. Todos dançam, riem, pulam, sorriem, e a banda, compasso por compasso, exalta aquela alegria.
O som é de uma  felicidade contagiante, que induz os corações a pulsarem vida.
Sim!!! É a alegria pela continuidade da vida...seja aqui...seja em outra dimensão, porém, vida!
New Orleans, na mesma época, comecinho do século vinte.

fotosearch




O clima é quente. No ar respira-se as cores do local. Morros verdejantes de um lado. O mar de outro.
Despojado, aquele rapaz caminha pela calçada, da rua de um bairro periférico.
Alegre, cuida bem de sua companhia. Sim, a companhia que estará ao seu lado, para falar de amor e desamor, mas em tons leves. Também, para falar do doce cotidiano descompromissado, humorado, engraçado, de um ser que, como ele, pupula pela cidade bonita, colorida, iluminada e alegre. Aquela companhia, daquele rapaz, também o ajuda a ter esperança, e não deixar a vida desandar: o violão. O mesmo violão que poderia ser um ''passaporte'' para a cadeia, já que, na época, ''era coisa de vagabundos''.
nosso.jor.br

Logo, ele encontra amigos, que, numa esquina, ou varanda farão aquela bela roda de risadas, cervejas e muita música.
Ali reunidos, cada qual empunha seu instrumento. Pode ser flauta, violões, cavaquinho, bandolim, pandeiro, quem sabe um acordeon, dizem que até piano. Mas fiquemos nos cinco primeiros. Sim, mais baratos, leves e, nem por isso, menos virtuoses (claro, desde que em boas mãos).
E, entre um ''vamos tocar essa'', e ''vamos tocar aquela''. Alguém lembrou de um violonista virtuose e  compositor inspirado.
João Pernambuco.
Rio de Janeiro, na mesma época. Inicialzinho do século vinte



Rosa Carioca, com Leandro Carvalho

Um comentário:

Anônimo disse...

Putz que delicia ler isso. E eu que adoro bares ordinarios. De mijar em pe.


Camilla Tebet