Naquele
quintal, um Universo.
Márcio
Barker
Outro dia encontrei esse
quintal aí.
Nossa! Que quintal tão bonito!
Igualzinho a tantos quintais que vi, no
meu tempo de menino.
Eu ainda lembro daqueles
quintais. Cheio de árvores, plantas, flores, muita cor, e simplicidade. Ah,
sim. Era isso, a simplicidade, o toque
daqueles quintais.
E, nesse quintal aí, vi
coisas que só vi, nos quintais de minha infância.
Olha, só, até tem
beija-flor. Puxa vida! A quanto tempo não via um deles. Verdadeiro às, flutuando no ar, e metendo o
bico nas flores. Sabem, confesso, sempre quis experimentar uma das flores que o
beija-flor se regalava. Mas, meu bico era maior...
Vejam, uma amoreira!!! Que
coisa! Eu sempre imaginava que amoras davam em cachos. Mas não. Dão no tronco e
galhos. Tinha esquecido.
E, nesse mesmo quintal,
encontrei outro personagem mágico: a Colombina. Quem é a Colombina? Imaginem,
uma jaboti!!! Conheci outros jabotis,
mas nunca pensei que iria encontrar um, com o nome de Colombina. Aliás, já fui íntimos de jabotis, tive vários. Quando menino, sabia de seus gostos, até assuntos preferidos. E sabem? A Colombina gostou de mim. Ficou
andando atrás de mim. Me agachei, e cocei sua
cabeça.Ah, senti todo importante!!! Não era para menos. Quando criança
me contaram que é uma deferência dos
jabotis fazerem isso. E não é qualquer um que deixam coçar a cabeça, Viu, só?
Coisa para poucos. Conversamos, eu e a Colombina.
Olha que ela tinha histórias, afinal, são seres longevos. Me falou de suas intermináveis caminhadas, dos
papos com o gato do vizinho, dos cantos onde se mete, para um cochilo. Grato, eu
servia a ela um pouco de mamão e banana, enquanto papeávamos. E lá veio mais histórias.
Continuei caminhando por esse
quintal aí, nele também tinham seres incríveis. Sim, lembro-me de contos
extraordinários, de fantasmas fantásticos, como aquele, da mula sem cabeça, que punha fogo pelos olhos.
Incrível! E, juro a vocês, que a vi, sim,
toda elegante, imponente, cavalgando pelos quintais de minha infância.
Verdade, viu? Vi mesmo.
Daí, de repente, eu escuto
ele se aproximando. Sim!!! É ele mesmo,
como o via num de meus velhos quintais!!! Em meio ao bosque, ele vinha surgindo
com seu imenso farol, amarelo, jogando para os lados, as sombras das árvores.
Era o meu trem, que passava no fundo do quintal, toda tarde. Resfolegando,
cuspindo fogo, nem por isso o achava deselegante. Era outro ser incrível em sua força, que eu admirava tanto, e tanto
o achava lindo. Espalhava um doce perfume, que nunca esqueci: o cheiro do
carvão queimado.
Naquele quintal, também
encontrei pessoas especiais. Sim, pois quem habita quintais como esses, não
pode ser deste mundo. Delas escutei histórias maravilhosas, mágicas, de como a
vida pode ser alegre e simples. De como a simplicidade pode ser tão rebuscada.
Histórias que sobreviveram ao tempo, e a minha dita maturidade.
E, neste quintal aí, eu
caminhei por entre as árvores, cruzando com borboletas, que já não via mais, mas
queria acreditar que ainda existiam. Olhava para o céu, vendo infinitas
estrelas, e lembro que entre as árvores, lá estavam os vagalumes. Na lembrança,
suas lanternas eram verdes, azuis, amarelas e até vermelhas. Um deles pousou na
minha mão. Embasbacado, vi como ele acendia e apagava sua luz. Como fará? Não importa, deve ser uma mágica.
E, neste quintal aí, encontrei
tudo isso...coisas de minha infância.
Estou sinceramente feliz, por
ter encontrado esse quintal. Nele, um universo...e tanta coisa mais, que me
surpreendeu...
Depois conto para vocês.
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