quarta-feira, 20 de setembro de 2017

A Carta


A Carta

 Marcio Barker

Hoje amanheci com vontade de escrever uma carta.
É, sim. Uma carta numa folha de papel pautado e com uma caneta tinteiro.
Pois é, eu hoje acordei com vontade de escrever uma carta.
Sim, apesar de meus garranchos, feios e desproporcionais,  mas com eles, eu quero escrever.
Imagine, querer escrever uma carta, hoje, com tanta tecnologia. E querer escrever, e com uma caneta tinteiro, numa folha de papel ao maço.
É, essa  tecnologia, que no dia-a-dia abrevia, torna objetiva e encurta qualquer escrita.
E, não apenas  o tamanho da escrita, mas abrevia também as ideias.
A carta que quero escrever, é uma carta como eu escrevia, há tanto tempo!!!
Aliás, não era bem escrever. Era desenhar as letras, ora feias, ora mais ou menos, mas, na média, garranchos como eu disse.
Mas havia que as lesse e, incrível, as entendesse.
Era a magia da carta. Demorada para se escrever. Demorada para ser enviada. Demorada para chegar. Demorada para ser lida. Deliciosamente demorada para ser lida...como foi, quando escrita.
Uma magia que parece não ter mais lugar.
A carta tinha ideias, pensamentos que se estendiam, letra  após letra, linha pós linha, folha pós folha.
Na carta era permitido, e perdoado erros de escrita,  que, quando corrigidos,  viravam semi-borrões.
Ah, sim, e na carta, se quisesse podia mandar uma flor. Detalhe, flor de verdade.
Na carta, se quisesse, poderia mandar um perfume. Hoje já não dá. E flor, só aquelas já programadas para se colocar. Flores de mentirinha.
Na carta, eu poderia beijar a folha de papel, e colocar um “x” onde estava o beijo. E, quando chegasse, a destinatária, beijava o mesmo “x”. Legal, não?
Na carta que quero escrever, o desenho das letras mostra o que vai pelo meu coração. Não sei se digitando, isso é possível.
Mas, no fundo, eu quero escrever uma carta, coisa antiga. Sim, e quero escrever à moda antiga. Para,  à moda antiga, dizer que estou gostando de você.
Será que valerão à pena os meus garranchos, borrões e a demora em chegar?
Depois, você me conta, tá bom?

Beijo.

Imagem depositphotos

Um comentário:

Viajante disse...

Claro que valeu a pena!!! Uh!E como....