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Amigos do Exilio - Márcio Barker
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Longo, não demora esses três camaradas se juntam a mim. O cachorro é o Buffon, irrequieto e metido
a (meio) pastor, (meio) alemão. Ao seu lado, o cinzento Thomas, com
seu jeito de camarada afável, e o grande Charles, amigo branco, mas
sempre mal humorado.
E, nos quase quatro anos de desemprego, sobrevivendo graças à esmola da aposentadoria, passo semanas como um frei, num convento. Mas não por escolha, mas por imposição do meu depauperado e surrado bolso. Os dias são “replays” uns dos outros, e a grande arte é a de não se deixar enlouquecer, e procurar saídas. Se eu nasci, se estou vivo, ora, ora, tenho que aproveitar minha vida, não é? Já que estou por aqui, apesar de não imaginar por qual razão. Mas isso é mero detalhe.
Sim, e seria demais falar da raiva de ver minha vida indo para o ralo, dia-a-dia, escorrendo por entre os dedos inúteis em impedir isso (“bela” imagem “poética” rsss).
Longe das cores do mundo, longe de seus infinitos caminhos, enquanto ele borbulha freneticamente, cá estou eu. E, mesmo que me sentido jovem, sei bem que não tenho lá mais muito tempo. Pois é, ele, o tempo, se esgota rápido por entre meus dedos. E eu, triste idiota, não sei o que fazer para impedir. Como sou incompetente!!!
“Burro!!!” Sim, com três exclamações. E quem sentencia isso sou eu mesmo. Sempre imaginei que, 99% do que acontece com cada um, é responsabilidade, de cada um. Então: “B-U-R-R-O” outra vez. Uma vez um médico comentou comigo: ”Nós pagamos na velhice, os excessos que cometemos na juventude”. E amargo eu acrescento: inclusive os tolos sonhos juvenis nos cobram um pesado tributo na velhice.. Mas “fazê” o que, né?
Entre um sonho e outro, uma tentativa e outra, uma teimosia a mais, eu paro um pouco, sento ali, na escada, e olho o céu. É legal. E logo meus amigos se aproximam de mim. E, nesses anos de vagabundagem explícita, num exílio forçado, comecei a descobrir o universo que está muito perto de mim, por trás daqueles olhos caninos e felinos.
O que dirão eles? Fico imaginando se eles falassem português, ou eu entendesse o “minhês” ou o “auauês”. Como seriam nossas conversas, nas tardes perdidas ao pé da escada, ao pé da noite?
Serenos, calmos, absolutamente tranqüilos, essa dupla de e charmosos gatos me parece sábia. Que universo há por de trás daqueles bigodes? Os gestos lentos e elegantes, seus olhos amarelos e os rostos enigmáticos dizem muito. Mas não dá para traduzir em palavras. Sim, pois muitas vezes elas são limitadíssimas. Entretanto, nesses gatos, deve existir algo que me faz crer, sim, absolutamente crer, que eles são sábios. E como tal, me fazem bem. E nesses momentos, até o irrequieto Buffon, igualmente se tranqüiliza, e me olha com profundo carinho, com seus olhos castanhos escuros. Em silêncio, eles dão voltas ao meu redor, me tocam com as patas pedindo atenção (ou consolando-me, vai saber), e me voltam a olhar. E, muitas vezes deixo a curiosidade de lado, e simplesmente fico como eles...e com eles. Quem sabe o universo desses três “bichinhos”, como ingenuamente os chamamos, me puxe um pouquinho para “o lado de lá”.
E é seguramente, quando nas solitárias tardes, naquele pé de escada, já quase ao pé da noite, que eu me sinto tranqüilo. Extrato de banco? Nunca ouvi falar nisso. O inferno paulistano? Não sei onde é. O problema a ser resolvido? Que problema? Existe isso? Sei lá. Comprar? Mas comprar o quê, prá quê e por quê? Não faço a mínima idéia. Preocupação? Mas com o quê, por quê e prá quê? Preocupação? Não sei mais o que é isso.
É o outro lado da moeda, nesses anos de exílio, anos tortuosos, em que luto para não sonhar com o passado, para livrar-me desse presente e adivinhar um incerto futuro...com os pés no chão.
E, enquanto estou longe de meus iguais, os humanos, esses três camaradas freiam não sei de que modo, as minhas angústias. É possível que saibam igualmente a fazer magias...ou será que, por serem sábios, se confundem com mágicos? Uma sapiência que um reles ser racional não alcança.
A vocês o meu mais profundo agradecimento. Não sabia o quanto são geniais, meus amigos e senhores de muitos mistérios...que eu nem imagino como um pretensioso ser humano...
E, nos quase quatro anos de desemprego, sobrevivendo graças à esmola da aposentadoria, passo semanas como um frei, num convento. Mas não por escolha, mas por imposição do meu depauperado e surrado bolso. Os dias são “replays” uns dos outros, e a grande arte é a de não se deixar enlouquecer, e procurar saídas. Se eu nasci, se estou vivo, ora, ora, tenho que aproveitar minha vida, não é? Já que estou por aqui, apesar de não imaginar por qual razão. Mas isso é mero detalhe.
Sim, e seria demais falar da raiva de ver minha vida indo para o ralo, dia-a-dia, escorrendo por entre os dedos inúteis em impedir isso (“bela” imagem “poética” rsss).
Longe das cores do mundo, longe de seus infinitos caminhos, enquanto ele borbulha freneticamente, cá estou eu. E, mesmo que me sentido jovem, sei bem que não tenho lá mais muito tempo. Pois é, ele, o tempo, se esgota rápido por entre meus dedos. E eu, triste idiota, não sei o que fazer para impedir. Como sou incompetente!!!
“Burro!!!” Sim, com três exclamações. E quem sentencia isso sou eu mesmo. Sempre imaginei que, 99% do que acontece com cada um, é responsabilidade, de cada um. Então: “B-U-R-R-O” outra vez. Uma vez um médico comentou comigo: ”Nós pagamos na velhice, os excessos que cometemos na juventude”. E amargo eu acrescento: inclusive os tolos sonhos juvenis nos cobram um pesado tributo na velhice.. Mas “fazê” o que, né?
Entre um sonho e outro, uma tentativa e outra, uma teimosia a mais, eu paro um pouco, sento ali, na escada, e olho o céu. É legal. E logo meus amigos se aproximam de mim. E, nesses anos de vagabundagem explícita, num exílio forçado, comecei a descobrir o universo que está muito perto de mim, por trás daqueles olhos caninos e felinos.
O que dirão eles? Fico imaginando se eles falassem português, ou eu entendesse o “minhês” ou o “auauês”. Como seriam nossas conversas, nas tardes perdidas ao pé da escada, ao pé da noite?
Serenos, calmos, absolutamente tranqüilos, essa dupla de e charmosos gatos me parece sábia. Que universo há por de trás daqueles bigodes? Os gestos lentos e elegantes, seus olhos amarelos e os rostos enigmáticos dizem muito. Mas não dá para traduzir em palavras. Sim, pois muitas vezes elas são limitadíssimas. Entretanto, nesses gatos, deve existir algo que me faz crer, sim, absolutamente crer, que eles são sábios. E como tal, me fazem bem. E nesses momentos, até o irrequieto Buffon, igualmente se tranqüiliza, e me olha com profundo carinho, com seus olhos castanhos escuros. Em silêncio, eles dão voltas ao meu redor, me tocam com as patas pedindo atenção (ou consolando-me, vai saber), e me voltam a olhar. E, muitas vezes deixo a curiosidade de lado, e simplesmente fico como eles...e com eles. Quem sabe o universo desses três “bichinhos”, como ingenuamente os chamamos, me puxe um pouquinho para “o lado de lá”.
E é seguramente, quando nas solitárias tardes, naquele pé de escada, já quase ao pé da noite, que eu me sinto tranqüilo. Extrato de banco? Nunca ouvi falar nisso. O inferno paulistano? Não sei onde é. O problema a ser resolvido? Que problema? Existe isso? Sei lá. Comprar? Mas comprar o quê, prá quê e por quê? Não faço a mínima idéia. Preocupação? Mas com o quê, por quê e prá quê? Preocupação? Não sei mais o que é isso.
É o outro lado da moeda, nesses anos de exílio, anos tortuosos, em que luto para não sonhar com o passado, para livrar-me desse presente e adivinhar um incerto futuro...com os pés no chão.
E, enquanto estou longe de meus iguais, os humanos, esses três camaradas freiam não sei de que modo, as minhas angústias. É possível que saibam igualmente a fazer magias...ou será que, por serem sábios, se confundem com mágicos? Uma sapiência que um reles ser racional não alcança.
A vocês o meu mais profundo agradecimento. Não sabia o quanto são geniais, meus amigos e senhores de muitos mistérios...que eu nem imagino como um pretensioso ser humano...
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