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Velhos Amigos Velhos - Márcio Barker
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Agora vagando por aí. Destino? Nenhum. Resta sentar um pouco numa calçada, e esperar sabe lá o quê. Algo que o tire da solidão, da fome, da sede, de tamanha triste sem fim.
Perderam casa, amizades (que eram falsas), um canto para dormir em paz, perderam a vontade de rir, de brincar, perderam o endereço. Perderam até o nome.
Coitados. Olho para eles e pergunto de onde vieram, como eram chamados, o que comiam e quem foi o desgraçado que fez, o que fez, com eles.
Mas eu entendo quando eles fazem questão de não comentar nada sobre o assunto. Afinal devem sentir-se profundamente decepcionados. Discretos me olham, mas nada dizem. Eu entendo o seu silêncio
Encontrei os dois por aí, ao acaso, lutando, não pelo amanhã, mas pelo minuto seguinte. Sujos, chutados, com muitas cicatrizes pelo corpo. E a pior delas, a que fica na alma. Olharam-me desconfiados, chateados. Seria eu mais um? Possivelmente perguntaram se eu era confiável. Tinham razão para tamanha desconfiança. Eu era parecido com os sacanas que os haviam empurrado ao mundo incerto, de horizontes cinza, apesar dos anos de amizade.
Os dois olharam para mim, em tempos diferentes. No olhar triste do abandono, e do estômago que berrava, pareciam dizer que, “errar é humano, porém perdoar é canino”. Grande verdade, que eu nunca havia pensado.
Convidei-os a entrar. Hesitaram Lançaram-me um olhar de canto, de desconfiança. Mas em suas incríveis percepções, devem ter visto um anjo diante deles. Não aquele anjo com asas, que só promove o bem, que está acima de qualquer crítica e suspeita, que é bonzinho bonitinho e que nos ajuda. Não. Um anjo terráqueo, como tantos que andam por aí, e que são o contraponto dos falsos amigos.
Então, felizes, e de bom grato, ofereceram-me suas amizades. Viram que o camarada que os convidou para entrar era confiável… porque era também, muito parecido com eles.
P.S.: Uma homenagem pela amizade e companhia, ao Bono e ao Boris, meus amigos cães, que eu achei na rua, e que peguei para mim
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