A
Carta
Marcio Barker
Hoje amanheci com vontade de
escrever uma carta.
É, sim. Uma carta numa folha
de papel pautado e com uma caneta tinteiro.
Pois é, eu hoje acordei com
vontade de escrever uma carta.
Sim, apesar de meus
garranchos, feios e desproporcionais,
mas com eles, eu quero escrever.
Imagine, querer escrever uma
carta, hoje, com tanta tecnologia. E querer escrever, e com uma caneta
tinteiro, numa folha de papel ao maço.
É, essa tecnologia, que no dia-a-dia abrevia, torna
objetiva e encurta qualquer escrita.
E, não apenas o tamanho da escrita, mas abrevia também as ideias.
A carta que quero escrever,
é uma carta como eu escrevia, há tanto tempo!!!
Aliás, não era bem escrever.
Era desenhar as letras, ora feias, ora mais ou menos, mas, na média, garranchos
como eu disse.
Mas havia que as lesse e,
incrível, as entendesse.
Era a magia da carta.
Demorada para se escrever. Demorada para ser enviada. Demorada para chegar.
Demorada para ser lida. Deliciosamente demorada para ser lida...como foi,
quando escrita.
Uma magia que parece não ter
mais lugar.
A carta tinha ideias,
pensamentos que se estendiam, letra após
letra, linha pós linha, folha pós folha.
Na carta era permitido, e
perdoado erros de escrita, que, quando
corrigidos, viravam semi-borrões.
Ah, sim, e na carta, se quisesse
podia mandar uma flor. Detalhe, flor de verdade.
Na carta, se quisesse,
poderia mandar um perfume. Hoje já não dá. E flor, só aquelas já programadas
para se colocar. Flores de mentirinha.
Na carta, eu poderia beijar
a folha de papel, e colocar um “x” onde estava o beijo. E, quando chegasse, a
destinatária, beijava o mesmo “x”. Legal, não?
Na carta que quero escrever,
o desenho das letras mostra o que vai pelo meu coração. Não sei se digitando,
isso é possível.
Mas, no fundo, eu quero
escrever uma carta, coisa antiga. Sim, e quero escrever à moda antiga. Para, à moda antiga, dizer que estou gostando de
você.
Será que valerão à pena os
meus garranchos, borrões e a demora em chegar?
Depois, você me conta, tá
bom?
Beijo.
Imagem depositphotos
Um comentário:
Claro que valeu a pena!!! Uh!E como....
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